«Ein forbode kjærleiks draum.»

(Um Sonho do Amor Proibido)

“A um passo por vez, escalo as montanhas que a Deus erguem-se.
A um suspiro por vez, aperto meu punho contra meu peito.
A uma lágrima por vez, umedeço a terra sobre a qual piso.
A um dia por vez, vivo minha vida às sombras deste sonho.

A uma noite por vez, sonho com este mundo que procuro tanto.
A um minuto por vez, procuro responder as perguntas que encontro.
A uma resposta por vez, descubro que as perguntas se multiplicam.
A uma esperaça por vez, meu coração se perde nesta escuridão.

Meus sonhos são sonhos inconquistáveis, inalcançáveis.
Eu sonho em amar, sonho em ajudar, sonho em salvar.
Os sonhos que tenho, são os sonhos insonháveis.
Meus sonhos são meras blefes num mundo que não as contém.

As montanhas que os pés de Deus alcançam, são as montanhas inescaláveis.
A cada metro que se sobre, é mais um metro que caio.
E junto comigo, cai meu coração, na fenda escura do Diabo.
A luz cega meus olhos, e a escuridão cega meu coração.

Instigado por meu ego, tento alcançar Deus,
Enquanto meu coração é alcançado pelo Diabo.
A inveja e o egoísmo me carregam para perto da luz,
Que me queima, cega-me, e derruba-me.

A frustração e a melancolia derrubam meu coração nas trevas.
Tocado, abraçado e envolvido pelos dedos frios da escuridão,
Meu coração torna-se vazio como a própria fenda sombria,
E minhas emoções fertilizam a inveja e o egoísmo.

Minhas mãos em carne viva não conseguem mais escalar,
Meus olhos sangram à visão da luz que não deve ser vista.
Eu choro, e a cada lágrima, eu me aproximo mais do chão.
Meu corpo despenca, e as lágrimas ficam no ar.

Ao tocar veementemente o solo seco, sinto meu corpo frio,
Estou morto, rígido e gélido como um cadáver.
A luz que tanto me cegava deixou meus olhos,
E em seu lugar só há escuridão, massante e fria.

Tudo é frio, tudo é gelado. Tudo é sombrio e escuro.
Meus membros não se movem, estão duros e imobilizados.
Meu coração, porém, nunca retornou da fenda escura.
E lá permaneci, putrefazendo-me, sem visão ou coração.

Eu senti minha carne ser arrancada por animais selvagens,
Senti meus olhos serem arrancados por abutres.
Senti as formigas entrando em meu corpo, roubando porções pequenas.
Senti a dor da decomposição, como se eu estivesse vivo.

Eu ouvi as risadas daquele que me manteve vivo.
Ouvi o choro daqueles que estavam vivos, e que me amavam.
Ouvi as blasfêmeas daqueles que viviam, e que me odiavam.
Ouvi ele me dizer, em meu ouvido, minha punição.

Suas mãos abraçaram minha cabeça, gélidas como a morte.
Eram mãos mais frias que meu cadáver.
Eram mãos que viriam para me arrancar a vida.
Eram mãos que vieram devorar minha esperança.

Com sua voz rasgada e ríspida, ele me contou.
Punição por sonhar o que não era para ser sonhado.
Punição por amar o que não era para ser amado.
Punição por desafiar Deus e o Diabo para realizar o inrealizável.

Eu não podia falar, pois minha língua havia sido devorada.
Nem ver, pois meus olhos cegos também haviam sido devorados.
Não podia me mover, pois meu corpo estava morto.
Tudo que eu podia fazer era sentir a dor da morte.

Eu senti a solidão das eras passando perante mim.
Senti a melancolia de guardar minha dor para mim.
Senti a impaciência eras de punição.
Senti o desespero que só os punidos sentem.

Deveras, a desesperança era tudo que me restara.
A esperança havia sido comida pelas mãos frias da morte.
Mas a morte não comeu meu amor, nem minhas memórias.
Para que eu lembrasse eternamente das pessoas queridas, e sofresse.

Meu coração jazia às mãos daquele que permanecia eternamente na escuridão.
Havia horas em que ele apertava meu coração, enchendo-me de dor.
Outrora, ele soprava nele, congelando-me.
Até que um dia, a punição acabou.

A punição acabou, porque tudo um dia tem que acabar.
Do mesmo modo que minha vida acabou, meu amor também.
As pessoas, que um dia foram-me queridas, deixaram de ser.
Através das eras, meu coração tornou-se frio como aquelas mãos.

Chegou um dia que não havia mais restos de meu cadáver, e a dor parou.
Aquela que eu amei nunca existiu, e este amor acabou.
A esperança de encontrá-la acabou logo antes.
A vida que restava em meu coração, por fim, cessou.

Então eu abri meus novos olhos, e vi a escuridão.
Olhei para meu novo corpo, e vi a escuridão.
Falei para o nada, e ouvi a voz ríspida e gélida.
Dentro do meu corpo de trevas, senti meu coração congelado bater.

Então, descobri que sentia novamente.
Senti desespero, senti raiva, senti ódio, senti medo, senti solidão.
Apenas meus gritos ecoavam neste mundo de trevas profundas.
Meus berros de ódio, raiva, e dor profundas.

Lentamente, as lembranças de minha vida voltavam.
E, lentamente, elas eram substituídas pela escuridão.
O desespero dominava minha mente, e o medo o meu coração.
Àquele ritmo, eu lembraria de quem amei, e então esqueceria.

Mas o último nunca aconteceu, para minha desesperança.
Eu lembrei. Vomitei sombras, e gritei na escuridão.
Meu sonho, meu sonho proibido e inrealizável.
Eu lembrei do meu sonho. Um sonho que nunca realizaria.

Deus me deixou, pois ele eu traí.
Escalei para alcançá-lo, matá-lo e tomar seu lugar.
O Diabo me deixou, pois ele já tinha o que precisava de mim.
Ele roubou meu coração e me jogou em sua escuridão.

Exasperado, desesperado, descontrolado, e furioso,
Tentei infligir dor em minha carne, quando lembrei que não tinha carne.
Aquele corpo nascido nas trevas era feito de sombras.
Eu não era nem um ser vivo, era só a sombra de um.

Eu era um ser maculado, em tortura perpétua.
Eu quis chorar, mas não podia. Eu quis cantar, mas não podia.
Eu quis falar, mas tudo que saía era um som gutural.
Eu quis morrer, mas para isto, outrem teria que me substituir.

Alguém sempre acaba nas sombras, alguém sempre tem que acabar assim.
Porque o mundo não pode ser perfeito, ou senão a perfeição não existiria.
O amor que busquei era perfeito, por isto nunca existiu.
E, em minha rebeldia, vim parar na escuridão.

Aqui, Deus nada vê. Aqui, o Diabo ignora.
Pois aqui não há nada, senão as trevas.
As trevas que permanecem estáticas para todo o sempre.
As trevas que permanecem frias por toda a eternidade.

Aqueles que acabam aqui, nesta escuridão, finalmente notam.
Que nada lhes faltou. Tudo que realmente precisavam, já tinham.
Aqueles que terminam aqui, nas travas eternas, então veem.
Que seus corações eram egoístas, mesquinhos e arrogantes.

Então eles nunca poderiam ser felizes.
Nem se tivessem tudo, nem se tivesse nada.
São corações que já eram sombrios antes de congelarem.
Então eu finalmente percebi, finalmente compreendi.

Eu sempre estive aqui. Sempre estive envolto desta escuridão.
Sempre tive um coração frio. Sempre disse palavras ríspidas e frias.
Sempre senti solidão, pois era superior demais para estar com os outros.
Sempre estive morto, pois nunca vivi a vida que ganhei.

Então, num acesso de compreensão, pedi perdão.
Envolvido nas trevas, chorei lágrimas que não sabia que tinha.
Abraçado pelas sombras, pedi perdão com uma voz suave que não sabia que tinha.
Eu não esperava ter meus sonhos realizados. Nem esperava viver de novo.

Só quis ser perdoado por minha tolice.
Então, uma luz quente brilhou, e iluminou os olhos que esqueci que tinha.
Meu coração foi aquecido, minha alma foi perdoada.
E por aquela luz, eu me deixei levar, para um mundo de luz.”


- Boken til Draumane. Kapittel I, del II.

Um comentário:

keroline disse...

Gostei.
Lendo, me trouxe um pouco de agonia ao retrato de tanto sofrimento. Infelizmente, a vida é feita de ilusões,e o amor, acredito eu que exista, só que é completamente raro. O melhor da vida é amar a si mesmo, confiando e conhecendo a si, somente assim somos capazes de refletir a luz que nos toca.

Ps. sempre que eu poder vou passar aqui para ler.
Ate o próximo.
:*