«Djevel og mørke.»

(O Demônio e a Escuridão)

“Protegido sob véus negros translúcidos, bordados com palavras despreocupadas,
Escondo meus verdadeiros sentimentos, congelados no tempo e no espaço.
Perdido na escuridão que me cerca, agarro e escondo meu desconforto,
Minha insegurança, meu desafeto, meus medos, e preencho meu mundo de ódio.

Minhas palavras são ásperas como areia, pesadas como chumbo.
Finjo não me importar com nada, e viro a cara para todos que me passam.
O que um dia era minha maneira de fugir de tudo, agora se juntou a mim.
Tornando-se uma esquizofrenia, culminando meus pensamentos.

A luz que me banha não aquece minha pele, pois seu calor não passa através do meu outro eu.
Que só quer que o mundo seja esquecido na escuridão do cosmos.
Sou eu e não sou eu; eu criei mas não quis criar. Somos um e dois.
Fingindo ser superior ao mundo, mas no fundo não sendo absolutamente nada.

Meus sonhos intocáveis, pairam perante mim como uma névoa.
Minhas mãos não alcançam, não tocam. Meus sentimentos, barrados.
As sombras dentro de mim segurando minha alma, acorrentando-a.
Não devo continuar, não devo satisfazer meus sonhos, por estar escravizado.

Então me torno um escravo das frustrações. Meu eu sorrindo nas trevas, mas chorando.
Os véus que me rodeiam são balançados pelos ventos, tentando me tirar dali.
Por que não consigo seguir em frente? Por que não consigo me perdoar?
De repente, quero entender o mundo, quero amar o mundo. Mas meu eu não me permite.

Minhas correntes são de egoísmo, egocentrismo. Não há água ou comida aqui no escuro.
Nem amor ou amizade me alcançam aqui embaixo. Estou preso a mim mesmo.
Impedido de criar, de manipular, de aprender ou melhorar, minhas palavras ecoam nas sombras,
Dizendo que o mundo é uma encheção de saco, que o mundo não vale a pena.

O mundo, prestes a desabar, sentirá minha solidão?
A vida, prestes a acabar, entenderá meu sofrimento?
Serei perdoado por ter acorrentado a mim mesmo?
Não há outra forma de fugir desta prisão psicológica, criada por mim mesmo?

Meu outro eu, nascido nas trevas, apenas me observa. Será que ele quer me destruir?
Se ele me destruir, ele também sumirá. E nós dois seremos apenas parte do passado.
Talvez ele odeie ter existido. Talvez ele me odeie por tê-lo criado. Ou talvez o contrário?
Meu eu preguiçoso, arrogante, presunçoso, estúpido, rancoroso, egoísta.

Tremendo no frio da escuridão, ele me acorrenta, e age em meu lugar.
Eu não quero viver uma vida na escuridão, mas tampouco tenho coragem de lutar.
Como lutar contra o demônio em minha mente? Como voltar a ser quem eu era?
Como trazer a luz ao meu coração? Como vencer a escuridão?

Os dias passam silenciosamente, a escuridão tentando me consumir.
Sobre minha cabeça, a última esperança. As correntes firmemente me segurando.
Dentre mil e um sonhos a realizar, por qual deles devo optar?
Minha escuridão me olha com obsessão, sussurrando em meus ouvidos.”


“Realizai um, realizai mil. Realizai vossos mil e um sonhos. Eu serei vosso oponente, obstruindo vosso caminho, impedindo vossa passagem. Se me vencerdes, libertar-vos-ei de vossa escravidão, e salvar-vos-ei da escuridão.”


- Boka til Draumane. Kapitel I, del III.